{Enfáticas Rosas Fantasmas}

Yago Pereira
2 min readSep 30, 2023

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Todos os dias eu peço para que minha alma não mergulhe em raiva, ódio ou qualquer coisa semelhante. Peço a quem? Mais ainda: e peço por quê? Eu queria ser como as rosas, que recebem apenas os ventos que querem e quando querem. Admiro-as. Quero ser como elas. Um dia, quem sabe, hei de conseguir. Embora, durante toda a minha vida, tenha sido constantemente por elas cortado em rodelas, — como usualmente se faz com os tomates — , não sinto dor alguma proveniente de seus afiados espinhos. Eu nem sabia que eu era como um tomate. Experimentei certo dia cortar rosas em rodelas, como tomates, mas o que eu deveria ter feito mesmo era soprar sobre suas pétalas para que ao menos uma vez recebessem algum vento indesejado. Não pretendo tornar-me uma rosa, mas sim apenas ser como uma. Quero, assim como elas, poder não sentir e ainda assim aparentar sentir algo. É isso… quero ser a rosa das rosas, para que elas saibam de uma vez por todas como é se deparar com uma rosa. Quero ser rosa-espelho, rosa-imagem, rosa-virtual… Enquanto não aprendo a ser rosa, venho tentando parar de enlouquecer. Todos os dias sinto que tenho enlouquecido mais e mais. Preciso dar um basta nisso. Não vejo problema algum em enlouquecer, mas simplesmente não o quero! Essas rosas de que falo, por exemplo, nem sequer existem. São fantasmas, rosas-fantasmas. Pois quando digo que quero ser como uma rosa, digo na verdade que quero ser como um fantasma. E vagando por aí como um espectro, espero conseguir enterrar tantas roseiras quanto for possível. Mas {enterra-las-ei} bem longe. Porque não quero que rosas beijem a terra que cobre meu corpo fatiado em rodelas.

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