Lençóis, Anti-universos e uma Piada de Mal Gosto
Houve momentos na minha vida em que pensei viver em outra galáxia. Hoje sei que isso não é possível. Sou um holograma e existo em outro universo.
O demônio de olhos azuis, que sempre vem me visitar em meus sonhos, me contou que no evento que deu início ao início, uma multidão de universos se originaram em pares. E para cada par de universos, um é o anti-universo do outro.
Se por ventura um universo se depara com seu anti-universo, então ambos se aniquilam. Eu vivo no seu anti-universo. Por isso sou virtual.
Você diz que é livre como a luz que o sol irradia e, todavia, vejo que encontra-se presa dentro da escuridão da lua que se passa por sol devido à essa mesma luz com a qual você diz se parecer. Deveria eu preocupar-me com as rimas?
Todos os dias eu acordo de um novo acidente. O acidente foi ter sobrevivido ao dia anterior.
Acordo sangrando. O sangue escorrendo pela boca manchando o lençol branco. Por isso todos os dias preciso colocar um lençol para lavar. E o barulho da máquina de lavar me desperta mais do que a cafeína, sem a qual não faz sentido sair de casa.
Já até pensei em dormir com lençóis cor vermelho sangue, apenas para evitar o susto ao acordar em meio às manchas vermelhas no lençol. Mas sei que isso apenas adiaria, e por pouco tempo, o inevitável.
Porque quando olhasse no espelho, certamente me depararia com a minha boca manchada de vermelho sangue.
Quando mais jovem, acreditava ser um vampiro sonâmbulo na noite. Humanas, exatas; direita, esquerda; sagrado, profano... Me faz pensar sobre o que é importante e o que vale a pena.
O que é importante e o que vale a pena é tudo o que eu fui capaz de fazer, tudo o que eu faço e tudo o que eu ainda serei capaz de fazer, mesmo sangrando.
Tanto à sua direita quanto à sua esquerda, cobram-te coisas. Coisas diferentes uma da outra, mas cobram. Por isso fui transportado para o seu anti-universo. Por isso tornei-me um holograma. Seria bom começar a sangrar pelo nariz para variar.