O texto dos meus 30

Yago Pereira
2 min readDec 5, 2023

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Três décadas de existência. Eu poderia iniciar este texto com a seguinte palavra: Chegamos! Mas chegamos aonde? Eu sou capaz de dizer que toda a minha existência, desde o meu nascimento até o dia de hoje, foi marcada por reflexões. Aquele menino quieto e observador, que as professoras diziam para a mãe que “ele não pode ver um fio de cabelo cair no chão que ele olha”. Alguma coisa se passava pela cabeça desse menino. Mesmo quando brincava sozinho de dupla personalidade ou quando antes de dormir fantasiava em sua cabeça que fazia parte de uma banda musical. No espaço existem várias direções e cada direção possui dois sentidos opostos. Mas o tempo… O tempo só tem uma direção possível. Pelo menos o tempo que eu conheço.

Eu já quis ser o poeta que fala de amor e coisas do gênero. Já quis ser o tipo de pessoa que, mesmo vendo o mundo caindo aos pedaços, consegue enxergar o lado bom do que não há. O meu grande sonho na vida é me tornar uma pessoa normal.

Primeiro me disseram que existe uma maçã. Uma maçã especial. E disseram também que todo mundo deveria correr atrás dessa maçã. A maçã é a mesma para todo mundo, ao que parece, mas para cada pessoa do mundo existe uma maçã especial. Eu descobri sozinho que não existe maçã alguma. Tem gente que fica a vida toda correndo atrás de uma maçã que não existe.

É como quando alguém se dirige até você para perguntar sobre alguma coisa que ela tem dúvida e, no momento em que você se dispõe a ajudá-la, uma outra pessoa a responde imediatamente, sem que você tivesse tempo para pensar e chegar na resposta adequada. Tanto a pessoa que perguntou quanto a que respondeu sabiam a resposta. Não havia dúvida. O que se pretendia, na verdade, era passar a sensação de que, ou você não sabia a resposta, ou não era capaz de chegar à ela.

Todos os dias eu acordo de um novo acidente. E constantemente me pergunto se já não estou morto. Como eu poderia saber disso? O fato é que quanto mais o tempo passa, mais percebo que cada vez mais sinto cada vez menos. E esse caminhar em direção ao sentir menos é um caminhar em direção à liberdade. Neste sentido, liberdade é não sentir. É por isso que quando as pessoas morrem elas se libertam.

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